Se correr todo dia, você vai ficar saudável demais

E outras reflexões sobre atividade física

“Sabe, os caras sempre me subestimaram. Eu nunca entendia isso, ficava chateado. Então um dia, levando meu filho para a escola, vi uma citação de Walt Whitman pintada num muro que dizia: ‘Seja curioso, não crítico’. Eu adorei aquilo. [...] Nenhum daqueles caras que me incomodavam tinha curiosidade. Eles achavam que sabiam de tudo. Criticavam tudo, criticavam todo mundo. Aí eu entendi que quem eu era não tinha nada a ver com o motivo de me subestimarem.”

— Ted Lasso

---

Aqui vão 10 coisas que andei pensando sobre atividade física:

1. Faço academia dois dias por semana. Já tentei cinco, quatro, três dias. Não dá. Dois dias é o que funciona pra mim.

2. Tanto funciona que essa semana completei um semestre indo à academia certinho, dentro do que me propus, sem pular nenhum treino. É um coro de aplausos isso que estou ouvindo?

3. Existe um antes e um depois nos meus dias de academia. No depois eu estou com a cabeça limpa, mais disposto e mais confiante de que posso ser uma pessoa.

4. Não é que eu goste de ficar dolorido, mas a dor da academia meio que é uma dor boa. Ela significa que estou progredindo, construindo os músculos que vou usar no futuro.

5. É como quando eu dançava no CTG. No dia seguinte aos ensaios, minhas pernas doíam como se alguém tivesse passado a noite batendo nelas com um martelinho de carne. Por causa dos sapateios, sabe? Mas eu ficava feliz. Havia dor, mas havia a sensação boa de esforço e evolução.

6. Isso talvez tenha acontecido só na minha cabeça, mas tenho a impressão de que, anos atrás, ser escritor e fazer atividade física eram atividades opostas. Foi de uns tempos pra cá que as pessoas da minha bolha começaram a ter mais consciência da importância do exercício físico. Talvez seja coisa da nossa idade. De qualquer forma, é legal ver amigos e conhecidos do mercado editorial tão comprometidos com os seus treinos, comemorando uma prova de corrida com o mesmo orgulho com o qual divulgam o lançamento dos seus livros.

7. Ok, não aconteceu só na minha cabeça. Em Romancista como vocação, Haruki Murakami diz que “no mundo literário as pessoas têm tendência a desdenhar de treinamentos físicos”. Em 2015, quando o livro foi lançado, ele vinha correndo todos os dias durante 30 anos. As pessoas debochavam dele. “Se correr todo dia, você vai ficar saudável demais e não conseguirá fazer boa literatura”.

8. Mas é aí que vem o plot twist. Muito tempo depois de começar a correr (e de ter persistido, sem saber direito por que aquilo era tão importante para ele), Murakami leu um artigo científico que dizia que a prática de exercícios aeróbicos acelera a formação de neurônios no hipocampo do cérebro. “Mas se os neurônios recém-criados não forem usados desaparecerão vinte e oito horas depois. É um desperdício, não é? Porém, se eles forem estimulados intelectualmente, serão ativados, se ligarão à rede cerebral […] E, como consequência, o pensamento se tornará mais flexível, podendo manifestar uma criatividade excepcional. Reflexões mais complexas e ideias mais ousadas se tornarão possíveis. A combinação de exercício físico e trabalho intelectual no dia a dia influencia positivamente o trabalho criativo”.

9. Stephen King também já falou várias vezes sobre como é adepto de longas caminhadas, uma ideia com a qual eu me identifico. Foi caminhando que tive as ideias que originaram A estrada infinita.

10. Já tentei dar orgulho ao Sr. Murakami e evoluir da caminhada para a corrida, mas ainda não encontrei meu ritmo. Foco no ainda. Até lá, esses dois dias de academia têm ajudado muito a manter minha cabeça no lugar.

Até a próxima semana.

Denys