“‘A melhor coisa que posso fazer pelo mundo é me isolar e escrever poesia.’
‘Mas de que servirão seus poemas se fizer isso? Se não consegue lidar com o caos do mundo, por que dariam ouvidos ao que tem a dizer? Escrita que exclui a vida real não serve para nada.’”
— Dickinson, 3x03
Em maio do ano passado, escrevi em um rascunho dessa newsletter:
Escrever tem exigido tanto de mim que parece que estou correndo uma maratona. Estou sempre sem fôlego, o esforço de encontrar as palavras certas ameaçando me derrubar, me fazer desistir. Quero voltar a respirar direito, sei como fazer isso, mas toda a experiência de antes não me preparou pra corrida de agora. Talvez seja um percurso diferente e eu tenha que aprender a correr de novo. Não dá pra manter o ritmo de sempre pra atravessar um território que não conheço. Mas todas as outras pessoas estão lá na frente, quase na linha de chegada, e eu preciso correr tão rápido quanto elas, não preciso? Mas não tenho fôlego. Não sei mais respirar.
Também foi em maio de 2023 que voltei a escrever o Sem raízes, meu romance de 2018 que tá ganhando uma nova versão. Certa noite, decidi mudar o narrador da 3ª para a 1ª pessoa, e isso abriu algumas possibilidades nas quais eu ainda não tinha pensado. Descobri que me faltava fôlego porque ainda estava tentando contar a mesma história de 2018, sem saber que a pessoa de 2018 não existia mais dentro de mim. Para reescrever esse livro, eu precisava entender o tipo de escritor que eu tinha me tornado. Precisava aprender a respirar de novo.
Já falei um pouco sobre isso nesse texto. A gente muda. A vida muda. Não consigo ocupar todas as minhas noites com a escrita, como fazia em 2018, porque hoje em dia a noite vai chegando e eu tô cansado demais, ou ainda tenho freelas pra terminar, ou só quero ficar de boa com a Andressa no sofá enquanto as nossas cadelas fazem festa em volta da gente.
Por outro lado, eu tento, sempre tento, manter alguma disciplina. Voltei a contar a quantidade de palavras que escrevo por dia, só pra ter uma ideia. Se escrevo 200 palavras, fico feliz. Com 800, fico em êxtase. Uma vergonha para o Denys de antes, com suas 3 mil palavras diárias, mas uma pequena vitória para o Denys de agora, que é mais gentil consigo mesmo.
E por causa dessa gentileza, dessa paciência, não me falta mais oxigênio. A escrita está sempre ao meu alcance, poucas palavras por dia, e assim foram mais de 37 mil palavras nesse 1º rascunho, nesse novo 1º rascunho. Pode não parecer muito, dependendo da régua que você utiliza, mas já são 37 mil palavras a mais do que eu tinha no ano passado, e isso pra mim é puro ouro.
Esse é um lembrete, pra mim e pra você, de continuar sendo gentil consigo mesmo.
Até a próxima semana.
Denys
Realmente a pressão que colocamos sobre nós mesmos é nossa maior inimiga! Comparar com os nossos eus do passado é brabo: tínhamos tempo de sobra e espaço de sobra na mente. Agora é mais difícil, e por isso mesmo qualquer pequeno avanço é enorme. Parabéns por continuar escrevendo, Denys! Se for uma palavra por dia, ainda é uma frase no final da semana :)
acho que eu teria um pouco de angústia de contar palavras…